segunda-feira, 11 de julho de 2016

Contemplação e Humanidade

não deixarei que minhas trêmulas mãos derrubem mais copos
ou que essa gangorra humana me desastabilize
o leite uma vez derramado  não volta mais para a jarra
e o espelho uma vez quebrado possui cicatrizes
a estrada é longa e o horizonte é ali
ando com os pés descalços
para que os espinhos me façam sentir
humanidade
solidão e inverno
o frio não mais me assusta
está dentro de mim
o caminho segue a menina
e a menina rosnando lhe diz
não deixarei que me desestabilizes
não deixarei que domines aqui
meu peito é fogo meu peito é brasa é alma é paixão
a menina segue
e caminha
em busca de contemplação

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

[há muitas coisas que admiro em você
sua doçura, sua coragem, sua ternura
seu afeto
a forma como suas mãos perpassam meus cabelos
seu sorriso tão grande e sincero que mal cabe a boca]

PARTILHAR

abri a janela do meu peito e dei de cara com você
rápido tentei me fechar, tentei me esconder
a hierarquia social culturalmente preestabelecida
me assustava e de sua visão busquei saída
mas já estavas lá
com seu sorriso largo e olhar penetrante
deixei entrar
“ignore a bagunça”, avisei
“como se eu vim aqui para bagunçar?”
teu peito de dores teu peito de flores
tua cama de solteiro teu espaço no sofá
esbravejei, “assim não dá! Apertadinho assim vai incomodar!”
achei difícil compartilhar tanto
encostastes a cabeça na minha,
os pés ultrapassavam o tamanho da cama,
ocupavas mais espaço do que eu gostaria
e disse, “ninguém falou que amar seria fácil, mas que valeria”

Ô se vale

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

À um amigo

Menino sereno, menino sabido
Sofria demais porque sabia demais
Quando vemos a real face da humanidade
Fica difícil sorrir às vezes

Avistei um pixo seu no muro da cidade
Fostes embora mas estás em tudo
Minha mente é um gatilho de memórias
Que a cada estímulo te desperta

Fostes um anjo
Conversas filosóficas pela madrugada
Companheiro de lutas políticas
Desafiador da minha antiga monotonia

Viver é duro e não há justiça no mundo
O lugar em que estamos é horrível demais
Tinhas que ir

Mas sei que ainda estás aqui comigo
Nos pássaros que cantam
Nos skatistas que andam
Nas folhas carregadas pelo vento

No sereno da brisa matinal

sábado, 8 de agosto de 2015

Sobre a saudade

Parece que estás aqui ao meu lado
Quase consigo ouvir suas gargalhadas retumbantes
Às vezes sinto seu perfume marcante no recinto
E imagino seu sotaque sussurrando qualquer coisa que seja em meu ouvido
Poemas, obscenidades, receita de bolo
Relembro suas mãos percorrendo o meu corpo como um viajante percorre estradas em busca de aventuras
Suas carícias que sobre mim pousavam como beija-flor em flores cheias de nectar
Sua altura que me obrigava erguer o queixo para contemplar tamanha paisagem que é a sua presença
Com estas imagens,
Sorrio sozinha e aprecio a beleza que foi te conhecer

A vida tem dessas coisas

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Chegará o dia

Algumas almas nascem marcadas,
São paridas no ringue
Crescem em tatames
Envelhecem em campos de guerra
Aprendem a ter a dor como velha amiga
O sofrimento como companheiro de quarto

Mas chegará o dia

Estes corpos cansados desde a nascença
Enfrentam a insensatez dos desrespeitos diários
que se impõem como marteladas na cabeça
Chacoalhadas nos ombros
Chicotadas nos troncos
Batons nos lábios

Mas nunca esqueça,
Chegará o dia

Algumas almas nascem grandes.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Canções do mundo

Mil histórias que voam pelo ar
Notas de farfalhar
Quem compõe o vento?
Conto ouviu o sabiá proclamar
Bem-te-vi que canta faz pombo dançar
Eu canto e conto o que vi
Ou-vi e vi-vi, viu?
Cada canto en-canto

Cada burbúrio, um piar

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Coisas do mar

Salva-dor, me deixastes doente.
Pisei na sua terra de mar, meu coração de galhos secos sofreu com tanto sal. À beira do leito, avistei uma brisa, que corria no vento, queria me carregar. Era como uma onda, não sabia se ia ou ficava. Eu sabia que queria ficar. Tantas idas e empurrões, me afogaram. Senti mais de uma vez o sal nos olhos.

É que o mar não entende. O cerrado é seco mas é sensível.

Explorei a cidade noturna em busca. Coletei conchas bonitas, pedras raras, caracóis de cabelos curtos. Porque a noite é escura como um nego, mas também é solitária só com o luar. Ouvi dizer que um dia o mar vem fazer visita. Com sua mala de algas e seu cheiro de brisa.

Cultivemos.

O cerrado dentro de mim pega fogo. O mar dentro de você tira onda.
E tudo o que eu quero é um mergulhinho, uma orla para me aconchegar. Mas Okô disse que a minha horta vai vingar.

Cativemos.

Um dia, água doce transbordará em meu peito pesca-dor.