quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

você é a minha poesia

procurei uma poesia para lhe escrever
mas só saiu suor, suspiro e saudade
escrevendo no escuro da calada da noite
uma madrugada que dura uma eternidade
tudo o que saiu foram lembranças
seu rosto, sua barba, seu toque
seu cheiro grudado em minha pele
os arrepios vindo como eletrochoque
sentir seu cheiro mesmo quando não está aqui
apreciar seu gosto impregnado no meu corpo
não passar um milésimo de segundo sem pensar em você, em fugir
sair correndo para beijar o sol, não morrer por pouco
as vistas encolhendo, a retina doendo
beijá-lo com força, com vigor
roçar a sua barba, tocar sua boca, seu nariz, seu rosto
sentir e conhecer cada detalhe de seu corpo
descobrir que as queimaduras não são graves mas suaves
experimentar sua força, seu calor
por isso quando me ver
me abraça suavemente, me abraça com fervor
me entrega seus beijos, sua calma, sua raiva, seu mar, seu amor
até eu me afogar em você
mergulhar em sua alma sem saber nadar
ser sugada para o fundo do oceano sem ter planos de voltar

tentei lhe escrever poesia mas só saiu você
você é a obra mais linda que eu sempre procurei escrever
(percebi que poesia só é boa
quando escrita no escuro)


não tenha medo de dançar

The Virgin by Gustav Klimt


ame a vida
sinta-a, dissemine amor
(não tema a dor)
pule, grite, cante, encante
se apaixone por cada detalhe insignificante que perpassar seu caminho
admire a beleza de tudo o que vê e não se sinta sozinho
o mundo te faz companhia e acredite ele é lindo e grande
olhe o oceano, o deserto, as montanhas, as florestas, os animais, as flores
compartilhe sorrisos e se entregue à leveza do ser (e das dores)
viva sem medo de se perder, priorize você
distribua amor por onde passar
e não tenha medo de dançar e cantar (alto)

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

deixa eu cuidar de você

deixa eu cuidar de você
te acariciar quando o mundo virar as costas pra você
te abraçar quando tudo o que quiseres é desabar
me deixa ser seu lar
olhar por você, rezar por você, chorar por você
ser a âncora que te prende ao mar
deixa eu te proteger
te ajudar quando ninguém mais lhe estender a mão
te amar quando sentires o torpor de uma paixão
deixa eu cuidar de você
me deixa ser o arame que prende o para-choque do seu carro
ser aquela que vira às costas e mostra a língua para o universo em sinal de rebeldia (e quem sabe até dá dedo pra ele?)
por que sabe do quê mais?
ele não pode nos parar, e nunca o fará
nada nem ninguém me impedirá
de cuidar de você


quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

é tão bom sentir você

me sugando por dentro.
esse tipo de amor, carnal, bruto e avassalador
não foi feito para cardíacos
leve-me para o hospital
lá eu posso encontrar a minha cura
e os céus glorificarão o dia em que o sol finalmente encontrará a lua
o eclipse perfeito
busca a flor que é tua por direito


equação irracional


Seu corpo o queria mas seu cérebro dizia não
seu corpo gostava das descargas elétricas que ele a proporcionava mas
não gostava de sua má ortografia
não gostava do balão gigante que ele chamava de cabeça (mentira, até achava isso fofo?)
não gostava de considerá-lo um pouco velho (apesar de sua alma ser de criança, o que é considerado algo positivo para ela)
não gostava que não sabia dançar (mas dava crédito por seu esforço ao tentar)
não gostava que apressava as coisas e que rapidamente tomava de conta de seu coração mas
gostava do modo como ela a beijava, como se ela não fosse feita de estruturas concretas e que a qualquer momento fosse sumir de seus braços, deixando-o sozinho dando um abraço no vento
gostava de seu jeito passional que o fazia puxar seus cabelos, beijar seu pescoço (sua pinta!) e morder sua boca, que reclamava
gostava de seu sorriso sincero que trazia uma serenidade para o seu rosto e parecia fazer afastar da vida todos os preconceitos e problemas que existiam no mundo
gostava de seu romantismo, de seus gestos sinceros, de seu sorriso sutil, de suas ações fofas, de seu jeito simples de viver que parecia não se ofender com nada e nem com ninguém.
Gostava dele porque a tinha feito fazer coisas que pensou que nunca faria, que sem perceber tinha amolecido seu coração embrutecido
Gostava dele porque a tinha feito mandar mensagens de texto (coisa que odiava fazer!)
gostava dele porque tinha uma beleza exótica que atraía seu olhar
enfim gostava dele porque gostava e racionalidade nenhuma poderia entrar na equação
Além do mais, para que mais prós que vencem os poucos contras se o que importa é que ela gostava dele?


febre interna

Não pôde conter as correntes elétricas que tomaram conta de seu corpo.
Mas o pequeno xerife que morava em seu átrio direito não deixaria isso acontecer. O intruso chegou sorrateiro, um forasteiro naquela cidadezinha que ela chamava de coração. O pequeno xerife se indignou com aquele que se aproximava cada vez mais rápido, rápido demais em sua opinião. Primeiro foram os beijos, que enviavam sensações inusitadas para a cidadezinha, que ia se aquecendo, derretendo a sua neve interior e ficando mais quente. Depois foram as gargalhadas que ele incitava nela com as besteiras que falava, eram dois crianções. Seu corpo o queria mas seu cérebro dizia não. O cérebro mandou ordens para o pequeno xerife montar guarda e garantir que o forasteiro não entrasse em seu coração. Mas o intruso era persistente. Os dois se empenharam num duelo que só podia acabar mal. Sentimento contra pensamento, paixão contra sinapses nervosas, razão contra emoção. A teimosia do pequeno xerife só poderia durar por pouco tempo porque o forasteiro destemido sabia o que estava fazendo e iria roubar aquela cidadezinha pra ele, com seus moradores, o cérebro, o xerife e o baralho a quatro querendo ou não, pois era um pistoleiro profissional. Enquanto os dois duelavam ali dentro, seu corpo tremia. Febres internas, que indicavam que uma batalha estava ocorrendo dentro de si, a possuíam. No final, o xerife não resistiu às tentações e cedeu-se ao protótipo de Django. E, ao contrário do que muitas lendas dizem por aí, não morreu e, sim, apenas encantou-se com o intruso (que agora já não era chamado de intruso) e decretou-o conquistador daquelas terras. E o cérebro e o resto do corpo fizeram o que com essa situação? Bom, se o xerife decretou, todo o seu sistema funcional teve que concordar com o “jovem conquistador” morando ali porque afinal de contas não se deve violar a lei.