sábado, 6 de dezembro de 2014

o verso do reverso

com meus olhos vesgos e meus pulmões falidos
caminho sozinha nesse beco perdido
os pés no asfalto, os olhos na lua
os sonhos distantes, a alma tão crua

com minha má postura e meus pelos em excesso
percorro as inseguranças desse universo
que é o meu corpo e que é um processo
e percebo que pequena me faço grande, o reverso

a solidão que sinto hoje não é nada
comparada àqueles becos escuros da madrugada
onde o silêncio é corrente imaculada
e a fome coloca a sua existência em jogada

mas sábio mesmo é obedecer aos mandamentos de quem domina
fica ligado, quem acata não é quem pira
nossos corpos não são nossos, nem teus pensamentos
fuja dos enfeitiçados e prepara-te para os xingamentos

nesse mundo distorcido quem vê além é quem sofre
nessa perspectiva revertida decidi ser o que é torpe
nas desalinhanças das distorções o torto se ajeita
nasci errada mas no final a alma se endireita

sentir que tudo isso não foi feito para a vida
ver que a norma social é prisão que te limita
respirar consciente dos ventos que invadem
proclamar a liberdade, lutar, ter coragem

cordeiro na pele de lobo

admira-me teus olhos andarilhos com tuas cores flutuantes
o peito inflamado que inflama-se de forma constante
mas o que é um incêndio para um vulcão?

a alma adentrando nas profundezas do inferno
que é a terra
gritos roucos de liberdade, ecos e sequelas

violência solidária, pequena alegria compartilhada
uma roda a mais, um dente a menos
faz parte do charme, grandes prazeres pequenos

te olho

corpo frágil pela dignidade, anti-carnificina
coração pesado de carregar o mundo
essa é a tua sina

cordeiro na pele de lobo,
é tão difícil resistir
e eu só quero viver um pouco


quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Não atirem, por favor

a morte bate à nossa porta
nosso canto fúnebre assusta, apavora
canalhices acobertadas por instituições
corpos jogados ao chão por analíticas suposições
provas desprovidas de devida atenção
foi homicídio ou proteção?
estamos defendendo o povo de bem do povo de mal
o olhar resiliente da criança indefesa assusta afinal
mas é preta a cara que te encara
não é pura, é demoníaca
tem que matar, dispara

a morte bate à nossa porta
suor laborial complacente, cansaço entorpecente
raízes indesejadas que nascem em solos improváveis
estamos adoecidos, onde estão os injetáveis?
meus braços cansados levantados
meus pedidos não ouvidos, ignorados
quadrilhas sistematicamente organizadas e
guerras inescrupulosas acobertadas
mas onde estão as flores? burguês quer falar de amores
olhe para a botina de um soldado e verás
o mundo de purpurina virar um mundo de horrores

a carne é podre, é assassina
os véus meticulosamente costurados escondem a tão dita chacina
a crueldade, desumanidade de um povo
o olhar demoníaco não é nosso, é deles, nada novo
quem empunha o revólver hoje, incontáveis vezes antes
o massacre sempre teve uma desculpa alarmante
a defesa
do homem branco

malditas formações arcaicas
que criam indiferenças cultuadas
extermínios disfarçados de caridades
um mundo repleto de bestialidades
nosso calvário é a segurança deles
e os danos psicológicos vem com os meses
a nossa sorte simples consequência
e a nossa morte vem por inadimplência
corporações e escravos do século XXI
jovens problemáticos e loucos tão cedo
atirem, por favor


a morte é o menor de nossos medos

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

pomposas características inúteis
existências futilizadas
hologramas mal feitos
eu's construídos na base do eu-sou-melhor
imagens intocadas e depressões
sorrisos que disfarçam escândalos
eu e você em jogos de suposição
mentes arquitetas
conversas indigestas
sou eu ou uma construção?