sábado, 6 de dezembro de 2014

o verso do reverso

com meus olhos vesgos e meus pulmões falidos
caminho sozinha nesse beco perdido
os pés no asfalto, os olhos na lua
os sonhos distantes, a alma tão crua

com minha má postura e meus pelos em excesso
percorro as inseguranças desse universo
que é o meu corpo e que é um processo
e percebo que pequena me faço grande, o reverso

a solidão que sinto hoje não é nada
comparada àqueles becos escuros da madrugada
onde o silêncio é corrente imaculada
e a fome coloca a sua existência em jogada

mas sábio mesmo é obedecer aos mandamentos de quem domina
fica ligado, quem acata não é quem pira
nossos corpos não são nossos, nem teus pensamentos
fuja dos enfeitiçados e prepara-te para os xingamentos

nesse mundo distorcido quem vê além é quem sofre
nessa perspectiva revertida decidi ser o que é torpe
nas desalinhanças das distorções o torto se ajeita
nasci errada mas no final a alma se endireita

sentir que tudo isso não foi feito para a vida
ver que a norma social é prisão que te limita
respirar consciente dos ventos que invadem
proclamar a liberdade, lutar, ter coragem

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