quarta-feira, 6 de novembro de 2013

objetos desfocados

                      art by hasmik avetisyan

levante esse corpo pesado do chão que a sua condição não se resolverá sozinha. há tanto a se fazer e ninguém a quem reclamar. enquanto escutava a música alta de seus órgãos fundamentais funcionando, ah então estava bem, saiu caminhando em busca de algo que ainda não sabia o que era. já que não estava morta precisaria provar que estava viva. foi para a cidade. os cabelos muito longos e ondulados, balançavam enquanto caminhava, às vezes incomodando-a. as luzes de um parque de diversões a distraíram de sua infelicidade e resolveu que lá era o seu lugar. o moço que guardava a roda-gigante parecia interessado em suas longas pernas mas tudo o que ela queria era sentir a brisa do vento lá de cima. ignorou-o completamente, tirando o fato de que meio que precisava dele para comprar os ingressos e ter acesso ao brinquedo. mas depois disso ignorou-o completamente. esperou sorridente, na fila. não gostava delas e nem de expectativas mas às vezes esperar era bom, aumentava o valor do prêmio final. sentou-se sozinha em um dos bancos e preparou-se para subir. no início o brinquedo era devagar, mas em sua primeira volta ganhou velocidade e fazia o mundo girar ao seu redor. sentiu-se plena. era assim que ela via a existência, um grande borrão de seres transeuntes e objetos desfocados. por isso, a grande circunferência que girava era o seu brinquedo favorito. dentro dele era o único momento que sabia que todos ali se sentiam como ela, tonta e assustada.

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