quarta-feira, 5 de março de 2014

Ataque de Pânico

Tinha saído. O sanatório interno que a abrigava tinha aberto seus portões. Sentia-se bem.
Caminhava sem calos nos pés, sorria sem aparelhos nos dentes.

O vento a ajudava a se reerguer, a seguir em frente. Sua brisa a confortava e por isso o tomava como amigo particular. Era só seu e ao mesmo tempo do mundo inteiro. Não gostava de ter que dividir sua graça com os outros mas como prenderia algo que nem forma física concreta tinha? O jeito era deixá-lo ir (e voltar), ir (e voltar), repetidas vezes até cansarem (se). Às vezes percorria seus cabelos, deixando-a arrepiada, e às vezes a empurrava, brusco em sua força, carregando-a para longe (longe dali). Temia a vinda de um redemoinho mas logo se acalmava pois confiava nele, o vento não a deixaria na mão. Mas apesar de suas palavras algo não fazia sentido. Eram as suas ações. Sentia a pequena queda na pressão atmosférica do ambiente e de repente não estava bem. Algo tinha entrado e fincado suas garras dentro de si. Aquilo não estava certo, tinha que fazer alguma coisa a respeito. Tudo era inverso, revertido. Como uma águia que cria brânquias ao redor da face e uma meditação que em vez de calma só traz medo. Redemoinho. Tornado. Furacão. Tudo de uma vez. Naquela noite não houve amanhã nem manhã, apenas duas noites que se seguiram. Uma tempestade impetuosa se fez dentro de si e o ar livre que avistava se transformou em um cubículo que se fechava cada vez mais ao seu redor. Arfava, por que você estava fazendo isso comigo? Sufocava, o que você queria afinal? Deitou-se no chão, segurou a barriga. O medo que sentia era tão forte que chegou a vê-lo. Sangrava. Queria uma explicação porque a sua realidade não era a mesma da do vento e o que ele via ela ansiava descobrir. O choque elétrico enfim veio e naquela manhã, a sucessora das duas noites que se seguiram, as pílulas desceram e as paredes choraram por terem que sufocar algo que era predestinado a viver.

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