Tinha saído. O sanatório interno que
a abrigava tinha aberto seus portões. Sentia-se bem.
Caminhava sem calos nos pés, sorria
sem aparelhos nos dentes.
O vento a ajudava a se reerguer, a
seguir em frente. Sua brisa a confortava e por isso o tomava como
amigo particular. Era só seu e ao mesmo tempo do mundo inteiro. Não
gostava de ter que dividir sua graça com os outros mas como
prenderia algo que nem forma física concreta tinha? O jeito era
deixá-lo ir (e voltar), ir (e voltar), repetidas vezes até cansarem
(se). Às vezes percorria seus cabelos, deixando-a arrepiada, e às
vezes a empurrava, brusco em sua força, carregando-a para longe
(longe dali). Temia a vinda de um redemoinho mas logo se acalmava
pois confiava nele, o vento não a deixaria na mão. Mas apesar de
suas palavras algo não fazia sentido. Eram as suas ações. Sentia a
pequena queda na pressão atmosférica do ambiente e de repente não
estava bem. Algo tinha entrado e fincado suas garras dentro de si.
Aquilo não estava certo, tinha que fazer alguma coisa a respeito.
Tudo era inverso, revertido. Como uma águia que cria brânquias ao
redor da face e uma meditação que em vez de calma só traz medo.
Redemoinho. Tornado. Furacão. Tudo de uma vez. Naquela noite não
houve amanhã nem manhã, apenas duas noites que se seguiram. Uma
tempestade impetuosa se fez dentro de si e o ar livre que avistava se
transformou em um cubículo que se fechava cada vez mais ao seu
redor. Arfava, por que você estava fazendo isso comigo? Sufocava, o
que você queria afinal? Deitou-se no chão, segurou a barriga. O
medo que sentia era tão forte que chegou a vê-lo. Sangrava. Queria
uma explicação porque a sua realidade não era a mesma da do vento
e o que ele via ela ansiava descobrir. O choque elétrico enfim veio
e naquela manhã, a sucessora das duas noites que se seguiram, as
pílulas desceram e as paredes choraram por terem que sufocar algo que
era predestinado a viver.
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